Encerramento do Blog

Com a certeza de ter dado o meu melhor, mesma nas minhas inúmeras limitações e dificuldades, estou encerrando o blog do ministério de fé e política com o encerramento do meu mandato de coordenador do ministério de fé e política tanto estadual da Bahia quanto diocesano de Salvador que aconteceu no final do ano com as mudanças da coordenação estadual e diocesana na RCC. Diante do tamanho do nosso estado surgiu a ideia de cria o blog para poder transmitir formação as dioceses do interior. Foram mais de mil posts desde que o site foi criado em Julho de 2010 com mais de 4.000 visitas ao longo deste tempo. Pudemos discutir vários assuntos ao longo destes anos, tratando especialmente da Doutrina Social da Igreja e como a política poderá ser melhor quando for iluminada pelo evangelho.

Apesar de não ser mais coordenador não me afasto do trabalho do ministério, dos estudos da doutrina social da igreja e da tentativa de fazer dos políticos pessoas que de fato lutem pelo povo e pela justiça social. Parece utopia? Acredito que podemos transformar a sociedade através da fé, da esperança e da caridade. Por isso coloco-me a disposição de todos que necessitem de apoio para continuarmos a trabalhar na conscientização dos filhos de Deus.

Sei que o ministério ainda é visto com muita desconfiança e descrédito por muitos, inclusive de lideranças, mas continuo manifestando minha posição clara que é importante lutarmos para ter nossos representantes nas esferas políticas como nos fala diversos documentos da Igreja e para que haja pessoas que lutem contra o secularismo que quer se instalar no nosso país, através de leis iníquas ou que combatam a prevalência de interesses pessoais diante do bem comum.

O ministério ainda tem muito a avançar, a participação nas reuniões e nos encontros ainda é muito pequena. Busquei ser fiel no pouco, às vezes com reuniões em que participavam duas ou três pessoas, mas acredito que o ministério avançou especialmente no momento dos debates próximo as eleições e no trabalho de conscientização dos grandes temas que são importantes para a Igreja através das muitas visitas feitas as dioceses, setores e grupos de oração.

Desejo aos novos coordenadores, tanto diocesano quanto estadual que ainda não foram nomeados que possa dar continuidade ao trabalho realizado e que possa avançar ainda mais nesse ministério que é tão importante para a Igreja e para o nosso movimento da RCC pois trata diretamente com o bem comum e a justiça social buscando a transformação da nossa sociedade na Civilização do Amor. Contem comigo.

Abraço fraterno.

Fábio André.

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Breve dicionário do Papa Francisco

O que o Papa Francisco pensa sobre o aborto, os jovens, a justiça social? Por cortesia do arcebispado de Buenos Aires e com trechos extraídos de entrevistas, apresentamos aqui alguns extratos das suas homilias mais recentes.

ABORTO
O aborto nunca é uma solução. Devemos escutar, acompanhar e compreender a partir do nosso lugar, a fim de salvar as duas vidas: respeitar o ser humano pequeno e indefeso, adotar medidas que possam preservar a sua vida, permitir seu nascimento e, depois, ser criativos na busca de caminhos que o levem ao seu pleno desenvolvimento.

EGOÍSMO
Nossas certezas podem se transformar num muro, numa cela que aprisiona o Espírito Santo. Quem isola sua consciência do caminho do povo de Deus não conhece a alegria do Espírito Santo que sustenta a esperança. É o risco que corre a consciência isolada, a consciência daqueles que, do mundo fechado de sua Tarsis (como Jonas, na Bíblia, N. do T.), se lamentam de tudo ou, sentindo sua identidade ameaçada, se lançam numa luta para, no final, ficarem ainda mais auto-ocupados e auto-referenciais. (Novembro de 2007)

IR AO ENCONTRO DO POVO

Em si mesmo, tudo o que pode conduzir pelos caminhos de Deus é bom. Eu sempre digo a meus sacerdotes: “Façam tudo o que devem fazer; vocês sabem quais são seus deveres ministeriais; assumam suas responsabilidades e, depois, deixem a porta aberta”. Nossos sociólogos religiosos nos dizem que a influência de uma paróquia é de seiscentos metros ao redor dela. Em Buenos Aires, há cerca de dois mil metros entre uma paróquia e outra. Eu disse então aos sacerdotes: “Se puderem, aluguem uma garagem e, se encontrarem algum leigo disposto a ajudar, que ele vá para lá! Fique um pouco com aquele povo, faça um pouco de catequese e dê até a comunhão, se lhe pedirem”. Um pároco me disse: “Mas, padre, se fizermos isso as pessoas depois não irão mais à igreja”. “Mas por quê?”, eu lhe perguntei: “Elas hoje vão à missa?”. “Não”, respondeu. E então! Sair de si mesmo é sair também do recinto do jardim dos próprios convencimentos considerados inamovíveis, se eles correm o risco de se tornar um obstáculo, se fecham o horizonte que é de Deus. (Novembro de 2007)

DEFESA DA VIDA
Os que se escandalizavam quando Jesus ia comer com os pecadores, com os publicanos, a estes Jesus dizia: “Os publicanos e as prostitutas os precederão no Reino dos céus”… Jesus não os defende. São os que clericalizaram – usando uma palavra para que me entendam – a Igreja do Senhor. Eles a enchem de preceitos, e digo isso com dor e, se parece uma denúncia ou uma ofensa, perdoem-me, mas na nossa região eclesiástica há padres que não batizam os filhos de mães solteiras porque estes não foram concebidos na santidade do matrimônio. Estes são os hipócritas de hoje. Os que clericalizaram a Igreja. Os que afastam o povo de Deus da salvação. E essa pobre moça, que poderia ter devolvido seu filho ao remetente, teve a coragem de trazê-lo ao mundo, vai peregrinando de paróquia em paróquia para que o batizem (2 de setembro de 2012).

EDUCAÇÃO
Quando vi o texto antes da Missa, fiquei pensando na maneira de viver daquelas primeiras comunidades cristãs e a Missa de hoje… E me perguntei se o trabalho educativo não teria que ir por este caminho de alcançar a harmonia: a harmonia em todos os meninos e meninas que nos foram confiados, a harmonia interior, a da sua personalidade. É trabalhando artesanalmente, imitando Deus, “moldando” a vida dessas crianças, como poderemos chegar à harmonia. E resgatá-las das dissonâncias que são sempre escuras. A harmonia, ao contrário, é luminosa, clara, é a luz. A harmonia de um coração que cresce e que nós acompanhamos neste caminho educativo é o que precisamos conseguir. (18 de abril de 2012)

PAPEL DO ESPÍRITO SANTO
Os teólogos antigos diziam: a alma é uma espécie de barco a vela, o Espírito Santo é o vento que sopra a vela, para fazê-la seguir em frente, os impulsos e empurrões do vento são os dons do Espírito. Sem Seu impulso, sem Sua graça, nós não vamos em frente. O Espírito Santo nos faz entrar no mistério de Deus e nos salva do perigo de uma Igreja gnóstica e de uma Igreja auto-referencial, levando-nos à missão. (Novembro de 2007)

TRÁFICO DE PESSOAS
Hoje, nesta cidade, queremos que se ouça o grito, a pergunta de Deus: “Onde está o seu irmão?” Que esta pergunta de Deus percorra todos os bairros desta cidade, que percorra o nosso coração e sobretudo que entre também no coração dos “Cains” modernos. Talvez alguns perguntem: que irmão? Onde está o seu irmão escravo?? Aquele que você está matando todos os dias na oficina clandestina, na rede de prostituição, nos lugares das crianças que você usa para mendigar, para “campanha” de distribuição de drogas, para roubos e para prostituí-los! Onde está o seu irmão, aquele que tem de trabalhar quase escondido como catador de lixo porque não foi contratado? Onde está o seu irmão? E, frente a esta pergunta, podemos fazer, como fez o sacerdote que passou ao lado do ferido, fazer de conta que estamos distraídos; ou como fez o levita: olhar para o outro lado, porque a pergunta não parece ser para mim. A pergunta é para todos! Porque, nesta cidade, está instalado o sistema de tráfico de pessoas, esse crime mafioso e aberrante, como tão acertadamente definiu há poucos dias um funcionário: crime mafioso e aberrante! (25 de setembro de 2012)

QUESTÃO SOCIAL
Pouco a pouco, nós nos acostumamos a ouvir e ver, por meio da mídia, a crônica obscura da sociedade contemporânea, apresentada quase com uma alegria perversa; e também nos acostumamos a tocá-la e a senti-la ao nosso redor e em nossa própria pele. O drama está nas ruas, no bairro, na nossa casa e – por que não? – em nosso coração. Convivemos com a violência que mata, que destrói famílias, aviva guerras e conflitos em tantos países do mundo. Convivemos com a inveja, ódio, calúnia, mundanidade no nosso coração. O sofrimento de inocentes e pacíficos não deixa de nos abofetear; o desprezo dos direitos das pessoas e dos povos mais frágeis não estão tão distantes de nós; o império do dinheiro, com seus efeitos demoníacos, como a corrupção, o tráfico de pessoas – inclusive crianças – junto à miséria material e moral são a moeda do dia a dia. A destruição do trabalho digno, as emigrações dolorosas e a falta de futuro também se unem a esta sinfonia. Nossos erros e pecados como Igreja tampouco ficam fora deste grande panorama. Os egoísmos mais íntimos justificados – e não por isso menores –, a falta de valores éticos dentro de uma sociedade que faz metástase nas famílias, na convivência dos bairros, povos e cidades, nos falam da nossa limitação, da nossa fraqueza e da nossa incapacidade para poder transformar esta lista inumerável de realidades destrutivas.

CONTAR COM A TERNURA DE DEUS
Penso naquelas comunidades cristãs do Japão que ficaram sem sacerdotes por mais de duzentos anos. Quando os missionários voltaram, encontraram todos batizados, todos validamente casados para a Igreja, e todos os seus falecidos tinham tido um enterro católico. A fé permaneceu intacta, graças aos dons da graça que alegraram a vida desses leigos que só haviam recebido o batismo e vivido sua missão apostólica em virtude unicamente do batismo. Não devemos ter medo de depender apenas da ternura de Deus… A senhora conhece o episódio bíblico do profeta Jonas?
Jonas tinha tudo muito claro. Tinha ideias claras sobre Deus, ideias muito claras sobre o bem e o mal. Sobre o que Deus faz e sobre o que quer, sobre quais eram as pessoas fiéis à Aliança e quais estavam fora da Aliança. Tinha a receita para ser um bom profeta. Deus irrompe em sua vida como um rio violento. Envia-o a Nínive. Nínive é o símbolo de todos os separados, os perdidos, de todas as periferias da humanidade. De todos aqueles que estão fora, longe. Jonas viu que a tarefa que lhe era confiada era apenas dizer a todos aqueles homens que os braços de Deus ainda estavam abertos, que a paciência de Deus estava ali e esperava, para curá-los com Seu perdão e alimentá-los com Sua ternura. Deus o havia enviado apenas para isso. Ele o mandava a Nínive, mas ele, em vez disso, foge para o lado oposto, para Tarsis.
Aquilo de que ele fugia não era tanto Nínive, mas o amor sem medidas de Deus por aqueles homens. Era isso que não cabia em seus planos. Deus tinha vindo uma vez… e “no resto penso eu”: era o que Jonas dizia a si mesmo. Queria fazer as coisas à sua maneira, queria guiar tudo sozinho. Sua teimosia o fechava em suas avaliações estruturadas, em seus métodos preestabelecidos, em suas opiniões corretas. Tinha cercado sua alma com o arame farpado daquelas certezas que, em vez de dar liberdade com Deus e abrir horizontes de maior serviço aos outros, tinham acabado por endurecer seu coração. Como a consciência isolada endurece o coração! Jonas não sabia mais como Deus conduzia seu povo com coração de Pai. (Novembro de 2007)

EVANGELIZAÇÃO
Não é suficiente que a nossa verdade seja ortodoxa e nossa ação pastoral, eficaz. Sem a alegria da beleza, a verdade se torna fria e até impiedosa e soberba, como vemos que acontece no discurso de muitos fundamentalistas amargurados. Parece que mastigam cinzas ao invés de saborear a doçura gloriosa da verdade de Cristo, que ilumina, com luz mansa, toda realidade, assumindo-a assim como ela é a cada dia. Sem a alegria da beleza, o trabalho pelo bem se torna em eficientismo sombrio, como vemos que acontece na ação de muitos ativistas. Parece que andam revestindo de luto estatístico a realidade, ao invés de ungi-la com o óleo interior da alegria que transforma os corações, um a um, partindo de dentro. (22 de abril de 2011)

DEFESA DO CASAMENTO
Está em jogo a identidade e a sobrevivência da família: pai, mãe e filhos. Está em jogo a vida de tantas crianças que serão discriminadas de antemão, sendo privadas do amadurecimento humano que Deus quis que acontecesse com um pai e uma mãe. Está em jogo uma rejeição frontal da lei de Deus, gravada nos nossos corações.. Não sejamos ingênuos: não se trata de uma simples luta política; é a pretensão destrutiva do plano de Deus. Não se trata de um mero projeto legislativo (este é apenas o instrumento), mas de uma artimanha do pai da mentira, que pretende confundir e enganar os filhos de Deus. (8 de julho de 2010).

JUSTIÇA SOCIAL
A justiça alegra o coração: quando ela existe para todos, quando a pessoa percebe que há igualdade, equidade, quando cada um tem o seu. Quando vemos que há para todos, sentimos uma felicidade especial no coração. Aqui cresce o coração de cada um e se funde com o dos outros, fazendo-nos sentir a Pátria. A Pátria floresce quando vemos “no trono a nobre igualdade”, como bem diz o nosso hino nacional. A injustiça, no entanto, escurece tudo. Que triste quando a pessoa vê que poderia haver perfeitamente para todos, mas no final não dá certo. (…) Dizer “todas as crianças” é dizer todo o futuro. Dizer “todos os aposentados” é dizer toda a nossa história. Nosso povo sabe que o todo é maior que as partes e por isso pedimos “pão e trabalho para todos”. Que desprezível, ao contrário, aquele que guarda seu tesouro somente para o seu hoje, aquele que tem um coração pequeno, cheio de egoísmo, e só pensa em pegar essa parte que não levará consigo quando morrer. Porque ninguém leva nada. Eu nunca vi um caminhão de mudança atrás de um cortejo fúnebre. Minha avó nos dizia: “A mortalha não tem bolsos”. (Homilia de 7 de agosto de 2012)

MUNDANIDADE ESPIRITUAL
É aquilo que De Lubac chama “mundanidade espiritual”. É o maior perigo para a Igreja, para nós, que estamos na Igreja. “É pior – diz De Lubac –, mais desastrosa que a lepra infame que desfigurou a Esposa amada no tempo dos papas libertinos”. A mundanidade espiritual é pormos a nós mesmos no centro. É o que Jesus vê acontecer entre os fariseus: “… Vós que vos gloriais. Que gloriais a vós mesmos, uns aos outros”. (Novembro de 2007)


A experiência da nossa fé nos situa na experiência do Espírito, marcada pela capacidade de colocar-se em caminho. Não há nada mais oposto ao Espírito que instalar-se, fechar-se. Quando não se transita pela porta da fé, a porta se fecha, a Igreja se fecha, o coração se retrai e o medo e o mau espírito “avinagram” a Boa Notícia. Quando o crisma da fé se resseca e se torna rançoso, o evangelizador já não contagia, mas perde sua fragrância, convertendo-se muitas vezes em causa de escândalo e de afastamento para muitos. Quem crê é receptor daquela bem-aventurança que atravessa todo o Evangelho e que ressoa ao longo da história, seja na boca de Isabel – “Bem-aventurada aquela que acreditou” –, seja dirigida pelo próprio Jesus a Tomé – “Felizes os que creram sem ter visto”. (9 de junho de 2012).

FIDELIDADE A DEUS
Ficar, permanecer fiel implica uma saída. Se a pessoa permanece no Senhor, sai de si mesma. Paradoxalmente, pelo fato de permanecer, se a pessoa é fiel, ela muda. Não se permanece fiel à letra, como os tradicionalistas ou os fundamentalistas. A fidelidade é sempre uma mudança, um florescimento, um crescimento. O Senhor realiza uma mudança naquele que é fiel a Ele. É a doutrina católica. São Vicente de Lerins faz uma comparação entre o desenvolvimento biológico do homem, entre o homem que cresce, e a Tradição, que, ao transmitir de uma época para outra o depositum fidei, cresce e se consolida com o passar do tempo: “Ut annis scilicet consolidetur, dilatetur tempore, sublimetur aetate”. (Novembro de 2007)

PODER POLÍTICO
Esta “loucura” do mandamento do amor que o Senhor nos propõe e que nos defende em nosso ser afasta também as outras “loucuras” tão cotidianas que mentem, prejudicam e acabam impedindo a realização do projeto de Nação: a do relativismo e a do poder como ideologia única. O relativismo que, com o pretexto do respeito pelas diferenças, homogeniza na transgressão e na demagogia; permite tudo para não assumir a contrariedade que exige a coragem madura de sustentar valores e princípios. O relativismo é, curiosamente, absolutista e totalitário, não permite diferir do próprio relativismo, em nada difere do “cale-se” ou do “não se meta”. O poder como ideologia única é outra mentira. Se os preconceitos ideológicos deformam o olhar sobre o próximo e a sociedade segundo as próprias seguranças e medos, o poder feito ideologia única acentua o foco persecutório e preconceituoso de que “todas as posturas são esquemas de poder” e “todos buscam dominar sobre os outros”. Dessa maneira, corrói-se a confiança social, que, como comentei, é raiz e fruto do amor. (25 de maio de 2012)

CORAGEM APOSTÓLICA
Para mim, a coragem apostólica é semear. Semear a Palavra. Dá-la àquele e àquela para os quais ela é oferecida. Dar a eles a beleza do Evangelho, a surpresa do encontro com Jesus… e deixar que o Espírito Santo faça o resto. É o Senhor, diz o Evangelho, que faz germinar e frutificar a semente. (Novembro de 2007)

CRISE
Os sintomas do desencanto são variados, mas talvez o mais claro seja o dos “encantamentos na medida”: o encantamento da tecnologia, que promete sempre coisas melhores, o encantamento de uma economia que oferece possibilidades quase ilimitadas em todos os aspectos da vida aos que conseguem ser incluídos no sistema, o encantamento das propostas religiosas menores, à medida de cada necessidade. O desencanto tem dimensão escatológica. Ataca indiretamente, colocando entre parênteses toda atitude definitiva e, no seu lugar, propõe esses pequenos encantamentos que funcionam como “ilhas” ou “tréguas” frente à falta de esperança diante do andamento do mundo em geral. Daqui que a única atitude humana para romper encantamentos e desencantos é situar-nos diante das coisas últimas e perguntar-nos: quanto à esperança, vamos “de bem a melhor”, subindo, ou de mal a pior, descendo? E então surge a dúvida: podemos responder? Temos, como cristãos, a palavra e os gestos para marcar o rumo da esperança para o nosso mundo? Ou, como os discípulos de Emaús e os que ficaram no cenáculo, somos os primeiros a precisar de ajuda? (8 de maio de 2011)

HUMILDADE
A passagem evangélica nos fala da humildade. A humildade revela, à pequenez humana autoconsciente, os potenciais que tem em si mesma. De fato, quanto mais conscientes dos nossos dons e limites, as duas coisas juntas, seremos mais livres da cegueira da soberba. E assim como Jesus louva o Pai por esta revelação aos pequenos, deveríamos também louvar o Pai por ter feito sair o sol para aqueles que confiaram no dom da liberdade, essa liberdade que fez brotar no coração daquele povo que apostou na grandeza sem perder a consciência da sua pequenez. (25 de maio de 2011)

PESSOAS SIMPLES
A sabedoria de milhares de “mulheres e de homens que fazem fila para viajar e trabalhar honradamente, para levar o pão de cada dia à mesa, para economizar e ir, pouco a pouco, comprando tijolos e reformando a casa… Milhares e milhares de crianças, com seus macacões, desfilam pelos corredores e ruas, indo e voltando, de casa para a escola, da escola para casa. Enquanto isso, muitos avós, que guardaram a sabedoria popular, se reúnem para compartilhar e contar histórias”. Passarão as crises e manipulações; o desprezo dos poderosos os isolarão com miséria, lhes oferecerão o suicídio das drogas, o descontrole e a violência; os tentarão com o ódio do ressentimento vingativo. Mas eles, os humildes, seja qual for sua posição ou condição social, apelarão à sabedoria daquele que se sente filho de um Deus que não é distante, que os acompanha com a Cruz e os incentiva com a Ressurreição nestes milagres, as conquistas cotidianas, que nos convidam a desfrutar das alegrias de compartilhar e comemorar. (25 de maio de 2011)

NOVA EVANGELIZAÇÃO
Deus mora na cidade e a Igreja mora na cidade. A missão não se opõe a ter de aprender da cidade – das suas culturas e mudanças –, ao mesmo tempo em que saímos para pregar-lhe o Evangelho. E isso é resultado do próprio Evangelho, que interage com o terreno em que cai como semente. Não só a cidade moderna é um desafio, mas sempre o foi o será toda cidade, toda cultura, toda mentalidade e todo coração humano. A contemplação da Encarnação, que Santo Inácio apresenta nos Exercícios Espirituais, é um bom exemplo do olhar que aqui se propõe. Um olhar que não fica atolado nesse dualismo que vai e volta constantemente dos diagnósticos à planificação, mas que se envolve dramaticamente na realidade da cidade e se compromete com ela na ação. O Evangelho é um “kerygma” aceito e que impulsiona a transmiti-lo. As mediações vão sendo elaboradas enquanto vivemos e convivemos. (25 de agosto de 2011)

MARIA
Porque Deus tinha uma carência para poder penetrar humanamente na nossa história: precisava de uma mãe, e a pediu a nós. Esta é a Mãe a quem olhamos hoje, a filha do nosso povo, a servidora, a pura, a só de Deus; a discreta que dá espaço para que o filho realize sua missão, a que sempre está possibilitando esta realidade, mas não como dona nem inclusive como protagonista, e sim como servidora; a estrela que sabe apagar para que o Sol se manifeste. Assim é a mediação de Maria à qual nos referimos hoje. Mediação de mulher que não nega sua maternidade, mas a assume desde o começo; maternidade com parto duplo, um em Belém e outro no Calvário; maternidade que contém e acompanha os amigos do seu Filho, que é a única referência até o final dos dias. E assim Maria continua entre nós, “situada no próprio centro dessa ‘inimizade’ do protoevangelho, daquela luta que acompanha a história da humanidade” (cf. Redemptoris Mater, 11). Mãe que possibilita espaços para que a Graça chegue. Essa Graça que revoluciona e transforma nossa existência e nossa identidade: o Espírito Santo que nos torna filhos adotivos, nos liberta de toda escravidão e, em uma possessão real e mística, nos entrega o dom da liberdade e clama, de dentro de nós, a invocação do nosso pertencimento: Pai! (7 de novembro de 2011)

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Jorge Bergoglio nunca foi cúmplice da ditadura argentina

Um Prêmio Nobel da Paz argentino e a Ex-Promotora de Justiça do país garantiram categoricamente que Jorge Mario Bergoglio, eleito bispo de Roma com o nome de Papa Francisco, não foi cúmplice da ditadura em seu país.

Adolfo Pérez Esquivel, conhecido pelo seu compromisso na defesa dos direitos humanos, esclareceu à rede de notícias britânica BBC: “Há bispos que foram cúmplices da ditadura argentina, mas Bergoglio não”.

O Prêmio Nobel da Paz respondeu assim às informações jornalísticas errôneas, distribuídas pouco depois da eleição do Papa Francisco, segundo as quais ele teria sido responsável pelo sequestro e pelas torturas do sacerdote Orlando Yorio.

“Bergoglio é questionado porque se diz que ele não fez o necessário para tirar os padres da cadeia, quando ele era superior da congregação dos Jesuítas. Mas eu sei pessoalmente que muitos bispos pediam à junta militar a libertação de prisioneiros e sacerdotes e isso não lhes era autorizado”, recordou Pérez Esquivel.

Por outro lado, a promotora de justiça Alicia Oliveira afirmou ao jornal El Clarín que, quando alguém tinha de deixar o país, ele estava sempre presente para se despedir.

Oliveira, que conhece Jorge Bergoglio há mais de 40 anos, tornou-se a primeira juíza do fórum penal do seu país, em 1973. Três anos depois, chegou o golpe militar e a então jovem Oliveira foi demitida do cargo e perseguida pelos militares.

“Aí fiquei desempregada. Logo depois de me demitiram, Jorge me mandou um ramo de rosas maravilhoso para me acompanhar nesse momento”, relata a advogada.

“Nós nos víamos duas vezes por semana. Ele acompanhava os padres da vila e sempre me informava sobre o que acontecia por lá”, afirma.

“Sou testemunha do compromisso de Jorge”, declara, lembrando de um episódio vinculado a esses duros anos: “Quando alguém tinha de deixar o país, porque não podia permanecer nem mais um minuto aqui, eu me despedia da pessoa com um almoço. E ele sempre estava presente”.

Alicia Oliveira conhece bem, além disso, a história do sequestro de dois padres, Francisco Jalics e Orlando Yorio – histórias estas utilizadas para acusar o Papa de ter colaborado com a ditadura: “Os dois padres eram jesuítas. Não estavam na vila 1.11.14, mas no bairro Rivadavia. Eles tinham um grupo lá, onde também estava a filha de Emilio Mignone”.

“Foi pedido aos sacerdotes que deixassem o lugar, pois era muito perigoso; mas não tinha jeito, eles queriam ficar lá”, disse Oliveira, recordando que, de todos os que militavam na região, os únicos sobreviventes foram os dois padres.

Segundo ela, Bergoglio “falou com todo mundo, com Massera e Videla também”.

Alicia Oliveira foi secretária de Direitos Humanos de Cancillería, na época de Rafael Bielsa como ministro e Néstor Kirchner como presidente.

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Em busca de uma economia fraterna

Em 1991, a italiana Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares visitou o Brasil. Espantada com os bolsões de desigualdade social, começou a refletir sobre os motivos pelos quais a cidade de São Paulo abrigava, lado a lado, a extrema riqueza e a extrema pobreza. Como uma cidade com imensos e luxuosos arranha-céus, convivia com favelas vizinhas e com os indigentes habitando as calçadas dos prédios?

Impelida pela urgência de viabilizar alimentação, moradia, tratamento médico e, se possível trabalho para os pobres e inspirada pela recém-publicada Encíclica Centesimus Annus, de João Paulo II, que lançava luz sobre a questão operária e mercadológica, Chiara Lubich pensou na “Economia de Comunhão” (EdC).

Esse projeto, voltado para o meio empresarial, tem três esferas: ajudar os que se encontram em necessidade, oferecendo-lhes condições de melhoria de vida e possibilidade de emprego; incrementar os ganhos das empresas; e, por fim, desenvolver as estruturas, visando a formação interpessoal das pessoas, construindo o que Chiara denomina “homens novos”, porque sem eles não se faz uma sociedade nova.

Os sujeitos produtivos da Economia de Comunhão (empresários, trabalhadores, até mesmo clientes e fornecedores, e demais agentes empresariais) buscam inspiração em princípios fundamentados numa cultura diferente da prática e da teoria econômica vigente. Essa cultura pode ser definida como “cultura do dar”, em antítese à “cultura do ter”.

Empresas, empresários e funcionários

Os empresários que aderem à Economia de Comunhão formulam estratégias, objetivos e planos empresariais, tendo como critério a gestão ética e buscando envolver no trabalho os membros da empresa. Realizam investimentos com prudência, mas dão particular atenção à criação de novas atividades e postos de trabalho.

O ser humano, e não o capital, está no centro da empresa. As capacidades e habilidades de cada funcionário são valorizadas da melhor forma possível pelos gestores da empresa, que procuram ainda estimular a criatividade, a responsabilidade e a participação na definição e na realização dos objetivos empresariais. Os funcionários que passam por dificuldades financeiras ou mesmo problemas pessoais recebem atenção especial.

A empresa é administrada de modo a destinar os lucros em três partes: para o desenvolvimento da empresa; para as pessoas em dificuldades financeiras, iniciando por quem compartilha a opção pela “cultura do dar”; e para a difusão dessa cultura.

Marcelino Vaz participou ativamente durante dois anos dessa realidade. Ele foi funcionário de uma marcenaria em São Paulo e ressalta que o tratamento dispensado aos trabalhadores é diferente, com respeito e, por conta desse aspecto, a produtividade é elevada.

Dentro dessa expectativa está a Campo Fertile Delicatessen, uma empresa dos paranaenses Marcos e Inês Gugel, que nasceu em Recife, e que já faturou dois prêmios para Micro e Pequenas Empresas do Sebrae, pela inovação e pela responsabilidade social.

Inês Gugel conta que a empresa auxilia muitos jovens em situação de vulnerabilidade social. “Não nos vangloriamos por ter iniciado nossa empresa em uma favela. Somos empresários como quaisquer outros, procuramos ser gestores competentes e formar cidadãos comprometidos e multifuncionais para um mercado cada vez mais exigente”, explica.

Segundo a proprietária, o trabalho social é fruto basicamente do compromisso como cristãos e cidadãos, não um meio de se fazer negócio. “Deus não se deixa vencer em generosidade, a Campo Fertile ano passado cresceu cerca de 25%, bem acima da média nacional referente ao setor de panificação. Os lucros ou a queda destes, não têm correlação com o trabalho social, os lucros aumentam ou diminuem apenas por uma razão: competência nos controles, rigidez na redução dos desperdícios, consciência dos colaboradores”, completa.

Na Fazenda da Esperança, uma economia que restaura vidas

Em 1983 um jovem sem pretender nada, a não ser colocar em prática o Evangelho, aproximou-se de uma boca de fumo. Depois de um tempo de relacionamento, um dos jovens ligados àquele ambiente pediu-lhe ajuda para mudar de vida.

Esses dois jovens foram a origem e a inspiração do grupo que deu início à Fazenda da Esperança. Este primeiro grupo de jovens voluntários e recuperandos tomaram a decisão de colocar todos os seus bens em comum e fizeram um pacto de sustentarem aquela primeira casa com os resultados obtidos do suor do trabalho de cada um.

Depois de 30 anos, a missão continua a mesma: colocar em prática o Evangelho e refazer o conceito de existência por meio do suor no trabalho dos mais de três mil homens e mulheres (sobretudo jovens), em 88 Fazendas da Esperança espalhadas por mais de dez países.

Atualmente os jovens que se recuperam são responsáveis pelo cultivo, distribuição e venda de produtos orgânicos, ou seja, livres de agrotóxicos. Tudo o que é utilizado para a produção, desde a muda, é feito com métodos que não agridem o meio ambiente, sem intervenção química, o que torna o produto saudável e mais rico em nutrientes.

De acordo com o assessor de imprensa da Fazenda, Maurício Araújo, em cada unidade da instituição o trabalho acontece de forma diferente. Em Coroatá (MA), a unidade produz acerola. Os jovens em recuperação são responsáveis pelo cuidado da planta desde o plantio, adubação e outros cuidados como poda; já a venda é feita por um jovem membro da Família da Esperança que conseguiu uma parceria na Europa, para onde as frutas são enviadas ainda verdes para a produção de vitamina C.

Em outras regiões, ocorre o plantio da Aloe Vera, conhecida popularmente por babosa. Os jovens fazem a seleção da muda, o preparo do campo, o plantio, a conservação (capina do mato), a extração da folhas e o preparo do bem manufaturado para o próprio consumo. A Fazenda da Esperança utiliza a planta como aliada no processo de desintoxicação dos jovens dependentes químicos.

Além de auxiliar nas despesas de manutenção da instituição, essas atividades ajudam a maioria dos jovens a descobrirem um potencial até então obscurecido pelo uso de entorpecentes. “A maioria dos jovens nunca desenvolveram uma atividade e os que trabalhavam anteriormente já haviam perdido o trabalho em consequência da drogadicção. Ter os horários bem definidos e a responsabilidade diária do trabalho possibilita ao jovens uma boa auto-estima, porque descobrem que podem se auto-sustentar”, destaca Maurício Araújo.

Jeferson Alves Rosa Junior (17), que há nove meses está na Fazenda da Esperança em Nanuque (MG), tem experimentado a palavra do Evangelho por meio do trabalho. “Estava trabalhando na plantação da babosa e o coordenador me pediu para capinar a plantação, muito rápido e bem feito. Porém, a minha vontade era de largar tudo e ir embora para casa, mas por causa da Palavra eu fiquei, fiz bem feita minha parte, dessa forma o dia foi mais produtivo e me deu uma alegria muito grande que nunca senti antes”, se alegra.

Segundo o assessor, essa atividade também beneficia a comunidade local, que encontra nos alimentos orgânicos uma fonte de renda. Esse é o caso de Maria Luiza de Sousa Santos (66), que vive em Croatá (CE).

Há 22 anos, ela foi convidada pela Fazenda das Esperança a ajudar no “projeto das acerolas” e foi com esse trabalho que conseguiu sustentar os filhos e educar seus netos. “Sou feliz e grata a Deus pelo que faço. Tenho o costume de dizer que nasci para catar acerola e pescar, pois pesco muito bem também”, brinca.

A coordenadora do projeto de orgânicos, Priscila Uchoas, conta que o consumidor além de adquirir um produto de qualidade, ajuda na construção de uma sociedade melhor, tanto na preservação do meio ambiente, como na restauração dos jovens. “O consumidor tem a certeza que esta consumindo um alimento que não agredirá sua saúde; ao contrário, estará fazendo um bem para ela, além de estar contribuindo com a preservação ambiental”, frisa.

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Côn. José Geraldo Vidigal – O Complexo mundo do Trabalho

Desde a Revolução Industrial o trabalho humano ganhou dimensões tais que transformou o panorama econômico do mundo. Tudo a girar em torno da aceleração produtiva. Acumulação do capital se tornou uma realidade. De plano, agravou-se o abismo entre ricos pobres, fenômeno que, posteriormente, se ampliou  e fez surgir  nações poderosas e outras legadas à pobreza. Desordem distributiva visível entre as classes sociais. Desequilíbrio, objeto do estudo dos cientistas sociais e dos economistas a buscarem explicações, soluções e a apontarem caminhos de um desenvolvimento sustentável que trouxesse a verdadeira harmonia sócio-econômica.  O capitalismo selvagem se viu frente a frente com o marxismo. No inicio deste milênio, com o esvaziamento marxista e as desgraças ocasionadas pelos excessos do capitalismo, percebe-se uma tendência a uma opção pela maior valorizarão do trabalho em si e um maior respeito à dignidade da pessoa humana. Pois bem, em momento algum, através de sua doutrina social, a Igreja se omitiu e os princípios por ela exarados se apresentam até hoje como a sólida  segurança de um  desenvolvimento mais humano e eqüitativo..A carta magna dos trabalhadores foi a Rerum Novarum de Leão XIII. Esta encíclica chamou claramente a atenção para a pessoa que realiza um trabalho, o qual não poderia ser considerado uma mercadoria na alheta dos marxistas. Clamava  o Papa pela justiça social e pelos direitos dos operários que deveriam ter um salário justo, podendo se associarem na defesa de uma classe que não deveria ser explorada. Pio XI alertou sobre a situação deprimente do proletariado e patenteou que  uma iníqua distribuição dos bens temporais não podia estar de acordo com a vontade de Deus. Pio XII prosseguiu na mesma linha e ecoa até hoje o que ele sintetizou numa sentença fulgurante: “O supérfluo dos ricos pertence aos pobres”. A economia de cada nação deveria oferecer as condições materiais na qual pudesse se desenvolver plenamente a vida individual dos cidadãos. A doutrina deste sábio Pontífice preparou a Mater et Magistra de João XXIII. Neste documento uma orientação luminosa: “ A presença do Estado no campo econômico, por mais ampla e profunda que seja, não pode ter como meta reduzir cada vez mais a esfera da liberdade da iniciativa pessoal dos cidadãos; pelo contrário deve garantir a essa  esfera a maior latitude possível, protegendo efetivamente, em favor de todos e de cada um, os direitos essenciais da pessoa humana”. Paulo VI, sobretudo na encíclica Populorum progressio exaltou magnificamente o aspecto criador inato a toda atividade humana, enquanto o homem colabora com Deus na construção de um mundo melhor. Com a sabedoria que o caracterizou o bem-aventurado João Paulo II nos seus escritos  aprofundou todos estes aspectos e afirmou solenemente o  princípio da prioridade do trabalho face ao capital, salientando-se sua encíclica Laborem exercens.. Bento XVI na sua mensagem para o dia primeiro de janeiro de 2013 fustigou as ideologias do liberalismo radical e a tecnocracia, defendendo a dignidade do trabalhador. Criticou então o crescimento econômico ao preço da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil e dos direitos e deveres sociais. Estes deveres, insistiu ele, são fundamentais para a plena realização dos outros direitos e deveres cívicos e políticos. Diante de uma ameaça visível ao direito ao trabalho, incentivou então a todos a procurar políticas corajosas e inovadoras. Eis suas palavras textuais: ”A realização deste objetivo ambicioso tem por condição uma apreensão renovada do trabalho fundada sob princípios éticos e valores espirituais que levam a reforçar sua concepção como bem fundamental para a pessoa, a família e a sociedade”. Portanto, na visão da Igreja o trabalho deve sempre assegurar a dignidade essencial de cada um num mundo no qual haja mais solidariedade com uma distribuição mais equânime da riqueza que não pode ficar concentrada nas mãos de uns poucos.

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Cardeal Bertone presta homenagem ao Papa

O Secretário de Estado do Vaticano prestou ontem homenagem a Bento XVI, no final da missa da Quarta-feira de Cinzas, na Basílica de São Pedro, confessando “tristeza” pela renúncia ao pontificado apresentada pelo Papa na última segunda-feira. “Com sentimentos de grande comoção e de profundo respeito, a Igreja bem como todo o mundo, tomaram conhecimento da notícia da sua decisão de renunciar ao ministério de bispo de Roma, sucessor do Apóstolo Pedro”, disse o Cardeal Tarcisio Bertone, no final da missa, numa intervenção sublinhada com as palmas dos fiéis presentes na celebração.

O mais direto colaborador do Papa falou num “véu de tristeza” por causa da renúncia de Bento XVI, apresentada segunda-feira, elogiando o atual pontificado, que comparou a “uma janela aberta sobre a Igreja e sobre o mundo que filtrou os raios da verdade e do amor de Deus”, sobretudo “nos momentos em que as nuvens se adensaram no céu”.

“Todos nós compreendemos que é o amor profundo que vossa Santidade tem por Deus e pela Igreja que o levou a este ato, revelando a pureza de alma, a fé robusta e exigente, a força da humildade e a mansidão, juntamente com uma grande coragem, que marcaram cada passo da sua vida”, prosseguiu. O Cardeal Bertone destacou que a Igreja “se renova sempre, renasce sempre” e que a decisão “sofrida” do Papa é um “grande ensinamento” para todos os católicos.

“Esta noite queremos dar graças a Deus pelo caminho que toda a Igreja fez sob a orientação de vossa santidade e queremos dizer-lhe do mais fundo do nosso coração, com grande afeto, comoção e admiração: obrigado por ter-nos dado o luminoso exemplo de simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor”, concluiu.

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O que Bento XVI fará até 28 de fevereiro?

Papa Bento XVI deixa oficialmente o ministério petrino a partir do dia 28 de fevereiro de 2013. Até a data, a agenda que ele havia acertado antes de apresentar a renúncia será totalmente cumprida, de acordo com Padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, que confirmou a informação em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira, 12, no Vaticano.

Nesta quarta-feira, 13, acontece normalmente a audiência geral com o Papa Bento XVI, e logo em seguida, a Santa Missa da imposição das cinzas que dá início ao tempo litúrgico da Quaresma. A celebração que acontece tradicionalmente na Basílica de Santa Sabina, em Roma, desta vez será realizada na Basílica de São Pedro, já que, por conta dos últimos acontecimentos, a expectativa é de que mais pessoas participem do momento.

Os outros compromissos de Bento XVI

A igreja vive um tempo de transição às vésperas de um conclave, mesmo assim, todos os outros compromissos, entre os quais as catequeses, Angelus dominicais, audiências privadas com chefes de estado e até a visita ad limina apostolorum dos bispos italianos, seguem seu curso normal tendo o então Papa Bento XVI à frente.

Ainda de acordo com Padre Lombardi, na quinta-feira, 14, o Santo Padre também preside o tradicional encontro com os sacerdotes de Roma, onde proferirá o discurso de forma espontânea, concentrando a sua reflexão na experiência vivida por ele durante o Concílio Vaticano II.

Além disso, o Pontífice fará o discurso de conclusão dos  exercícios quaresmais voltados ao Papa e à Curia Romana, os quais iniciam-se no dia 17 de fevereiro e encerram-se no dia 24.

No dia 27, às vésperas de deixar o ministério petrino, o Santo Padre fará sua última audiência geral de quarta-feira e a expectativa é de que, neste momento, muitos lhe prestem homenagens pelos quase 8 anos que esteve à frente da Igreja.

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Bento XVI envia mensagem para Campanha da Fraternidade

O Papa Bento XVI enviou uma mensagem aos brasileiros por ocasião do ínico da Campanha da Fraternidade nesta quarta-feira de Cinzas, 13. O Papa destacou que a Campanha é um estímulo em preparação à Páscoa e que de bom grado se une a esta iniciativa quaresmal da Igreja no Brasil.

Ao falar sobre o tema da Campanha “Fraternidade e Juventude”, o Papa recordou o pedido que fez aos jovens brasileiros quando esteve em São Paulo em 2007, para serem protagonistas de uma sociedade mais justa e fraterna inspirada no Evangelho, e explicou que na sociedade e na Igreja os “sinais dos tempos” surgem também através dos jovens e menospreza-los seria perder ocasiões de renovação.

Por fim, Bento XVI deixou um convite a juventude e fez votos que a quaresma seja frutuosa na vida dos brasileiros. “Convido os jovens brasileiros a buscarem sempre mais no Evangelho de Jesus o sentido da vida, a certeza de que é através da amizade com Cristo que experimentamos o que é belo e nos redime.”

Íntegra da mensagem do Papa Bento XVI por ocasião do início da Campanha da Fraternidade

Queridos irmãos e irmãs,

Diante de nós se abre o caminho da Quaresma, permeado de oração, penitência e caridade, que nos prepara para vivenciar e participar mais profundamente na paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. No Brasil, esta preparação tem encontrado um válido apoio e estímulo na Campanha da Fraternidade, que este ano chega à sua quinquagésima realização e se reveste já das tonalidades espirituais da XXVII Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho próximo: daí o seu tema “Fraternidade e Juventude”, proposto pela Conferência Episcopal Nacional com a esperança de ver multiplicada nos jovens de hoje a mesma resposta que dera a Deus o profeta Isaías: “Eis-me aqui, envia-me!”(6,8).

De bom grado associo-me a esta iniciativa quaresmal da Igreja no Brasil, enviando a todos e cada um a minha cordial saudação no Senhor, a quem confio os esforços de quantos se empenham por ajudar os jovens a tornar-se – como lhes pedi em São Paulo – “protagonistas de uma sociedade mais justa e mais fraterna inspirada no Evangelho” (Discurso aos jovens brasileiros, 10/05/2007). É que os “sinais dos tempos”, na sociedade e na Igreja, surgem também através dos jovens; menosprezar estes sinais ou não os saber discernir é perder ocasiões de renovação. Se eles forem o presente, serão também o futuro. Queremos os jovens protagonistas integrados na comunidade que os acolhe, demonstrando a confiança que a Igreja deposita em cada um deles. Isto requer guias – padres, consagrados ou leigos – que permaneçam novos por dentro, mesmo que o não sejam de idade, mas capazes de fazer caminho sem impor rumos, de empatia solidária, de dar testemunho de salvação, que a fé e o seguimento de Jesus Cristo cada dia alimentam.

Por isso, convido os jovens brasileiros a buscarem sempre mais no Evangelho de Jesus o sentido da vida, a certeza de que é através da amizade com Cristo que experimentamos o que é belo e nos redime: “Agora que isto tocou os teus lábios, tua culpa está sendo tirada, teu pecado, perdoado” (Is 6,7). Desse encontro transformador, que desejo a cada jovem brasileiro, surge a plena disponibilidade de quem se deixa invadir por um Deus que salva: “Eis-me aqui, envia-me!’ aos meus coetâneos” – ajudando-lhes a descobrir a força e a beleza da fé no meio dos “desertos (espirituais) do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial: (…) o Evangelho e a fé da Igreja, dos quais os documentos do Concílio Vaticano II são uma expressão luminosa, assim como o é o Catecismo da Igreja Católica” (Homilia na abertura do Ano da Fé, 11/10/2012).

Que o Senhor conceda a todos a alegria de crer n’Ele, de crescer na sua amizade, de segui-Lo no caminho da vida e testemunhá-Lo em todas situações, para transmitir à geração seguinte a imensa riqueza e beleza da fé em Jesus Cristo. Com votos de uma Quaresma frutuosa na vida de cada brasileiro, especialmente das novas gerações, sob a proteção maternal de Nossa Senhora Aparecia, a todos concedo uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 8 de fevereiro de 2013

[Benedictus PP. XVI]

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Tarefa do bem comum

Dom Alfredo Schaffler 
Bispo de Parnaíba (PI)

Os noticiários mostram, diariamente, os horrores e a gravidade da violência na sociedade contemporânea. Violências de todo tipo, que têm como agentes os jovens, muitos deles ainda adolescentes, que perdem o senso de responsabilidade, praticam crimes, arquitetam esquemas de corrupção.

Esse quadro de horror precisa ser diariamente enfrentado à luz da fé e do compromisso cidadão de cada um.

Neste horizonte, é importante investir na compreensão e na prática do princípio do bem comum, para despertar em cada mente o gosto pela conduta zelosa, pela justiça e verdade.

É imprescindível ensinar, nas escolas e famílias, nas igrejas e todas as instituições da sociedade, a respeito da dignidade, unidade e igualdade de todas as pessoas.

Aí se inscreve o sentido do bem comum, com sua força para equilibrar todos os aspectos e relacionamentos na vida social.

Trata-se de uma aprendizagem permanente, que requer o anúncio desses princípios, sua prática com força de exemplaridade, a partir de gestos pequenos àqueles com propriedade para determinar novos rumos.

Na verdade, é uma grande caminhada para recuperar a configuração perdida do sentido social, da fraternidade e solidariedade.

O bem comum não consiste apenas na soma dos bens particulares de cada sujeito, sublinha a Doutrina Social da Igreja Católica.

Ela diz que “sendo de todos e de cada um, é e permanece comum, porque indivisível e porque somente juntos é possível alcançá-lo, aumentá-lo e conservá-lo em vista do futuro”.

O agir social alcança sua plenitude realizando o bem comum. Não se pode cansar na sua prática e no testemunho de sua prioridade. Presente o sentido do bem comum, imediatamente se vê a diferença qualitativa do agir em busca do bem de todos.

Na contramão, está tudo aquilo que causa prejuízo, desde um papel jogado displicentemente na rua até a montagem ardilosa de esquemas de corrupção.

O bem comum é a consciência de que a pessoa não pode encontrar plena realização somente em si mesma. Por isso, a Doutrina Social da Igreja também afirma que, “nenhuma forma expressiva de sociabilidade – da família ao grupo social intermédio, à associação, à empresa de caráter econômico, à cidade, à região, ao Estado, até a comunidade dos povos e nações – pode evitar a interrogação sobre o bem comum, que é constitutivo do seu significado e autêntica razão de ser da sua própria subsistência”.

Passo importante para cultivar um autêntico sentido do bem comum é compreender que a paz é dom de Deus e obra de cada pessoa, conforme sublinha o Papa Bento XVI na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano.

Assim, não basta amedrontar-se diante da violência, mas crescer na consciência de ser um operário da paz.

Nesse sentido, o Papa observa que para nos tornemos autênticos e fecundos obreiros da paz, são fundamentais à atenção, à dimensão transcendente e ao diálogo constante com Deus.

Sem a dimensão transcendente e sem referência a Deus, certamente, mais difícil, por vezes impossível, é superar o egoísmo que adoece e nega a paz, tutela tipos de violência, bem como a avidez e o desejo de poder e domínio, além das intolerâncias, do ódio e das estruturas injustas que perpetuam abomináveis exclusões sociais.

Trabalhar pela paz é um fecundo processo educativo para o sentido autêntico do bem comum.

Para vivenciar este processo, é imprescindível uma grande abertura da mente e do coração para o Senhor da Paz, Jesus Cristo, o Salvador do mundo.

Firme na fé e fiquem com Deus.

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Nota Oficial da CNBB sobre anúncio da renúncia de Bento XVI

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota na tarde desta segunda-feira, 11 de fevereiro, sobre o anúncio da renúncia do papa Bento XVI feito na manhã de hoje. A seguir, a íntegra da nota:

Brasília, 11 de fevereiro de 2013
P. Nº 0052/13

“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja” (Mt 16,18)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB recebe com surpresa, como todo o mundo, o anúncio feito pelo Santo Padre Bento XVI de sua renúncia à Sé de Pedro, que ficará vacante a partir do dia 28 de fevereiro próximo. Acolhemos com amor filial as razões apresentadas por Sua Santidade, sinal de sua humildade e grandeza, que caracterizaram os oito anos de seu pontificado.

Teólogo brilhante, Bento XVI entrará para a história como o “Papa do amor” e o “Papa do Deus Pequeno”, que fez do Reino de Deus e da Igreja a razão de sua vida e de seu ministério. O curto período de seu pontificado foi suficiente para ajudar a Igreja a intensificar a busca da unidade dos cristãos e das religiões através de um eficaz diálogo ecumênico e inter-religioso, bem como para chamar a atenção do mundo para a necessidade de voltar-se ao Deus criador e Senhor da vida.

A CNBB é grata a Sua Santidade pelo carinho e apreço que sempre manifestou para com a Igreja no Brasil. A sua primeira visita intercontinental, feita ao nosso País em 2007, para inaugurar a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, e, também, a escolha do Rio de Janeiro para sediar a Jornada Mundial da Juventude, no próximo mês de julho, são uma prova do quanto trazia no coração o povo brasileiro.

Agradecemos a Deus o dom do ministério de Sua Santidade Bento XVI a quem continuaremos unidos na comunhão fraterna, assegurando-lhe nossas preces.
Conclamamos a Igreja no Brasil a acompanhar com oração e serenidade o legítimo processo de eleição do sucessor de Bento XVI. Confiamos na assistência do Espírito Santo e na proteção de Nossa Senhora Aparecida, neste momento singular da vida da Igreja de Cristo.

Dom Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís
Vice-presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB

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